Por que ser botafoguense? Existira alguma razão filosófica para isso? Vamos comparar os quatros grande times do Rio de Janeiro e interpreta-los como tipos de existir, modos de pensar e interpretar a vida, comparando-os aos quatro elementos: terra, água, ar e fogo. O Vasco tem méritos, foi o primeiro clube que aceitou jogadores negros e se sagrou campeão na ocasião; mas simboliza o colonizador que invadiu terras de Tupinambás, Tupis, Tapuias, Caraíbas, Araubes e tantos outros, fomentou o comércio com os ingleses que seqüestravam africanos, explorando-os com o consentimento da Igreja Católica. O Fluminense representa a elite, pintavam negros com pó-de-arroz, representando, sem dúvida, a burguesia, a playboizada, a elite egoísta que não pensa no povo e colhe toda sorte de efeitos colaterais de sua exploração. O Flamengo indica a massa, a maioria; mas, como diria Nelson Rodrigues: “toda unanimidade é burra” . Ou seja, a maioria age como um bando, como um cardume, sem singularidade, todos fazem o mesmo e agem sem a autonomia. O Botafogo simboliza outra coisa, a estrela solitária, parafraseando Nietzsche, indica um brilho dançarino no infinito. O Botafogo nos remete ao que existe de mais singular, a autonomia, a opinião própria, a possibilidade de afirmar o que existe de mais íntimo em cada ser. O Botafogo não é a maioria (poucos são os gênios, mulheres e homens autênticos), não é elite e não é colonizador. O Botafogo é filho da Glória, a supertição botafoguense remete ao caráter mágico da vida e ao mistério de estarmos vivos. Em linhas gerais, o filósofo Heráclito de Éfeso afirmava que o fogo é a essência e o princípio da realidade. Uma comparação aos quatro elementos poderia, segundo minha interpretação definir o Flamengo, tal como diz o hino: “... vê-lo brilhar, seja na terra, seja no mar”, como o elemento água – emoção, sentimento e tudo que se dá através desse elemento. O excesso de sentimentalismo revela a ausência de um parafuso, isto é, remete à loucura (no pior sentido do termo). O Vasco, gigante da colina, não poderia indicar outro elemento que não fosse a terra, pé no chão, o time revelaria a observação da realidade. O excesso de realidade, de pé no chão revela a caretice, a chatice e toda sorte de neuroses e doenças que acometem a alma. O Fluminense remete ao elemento ar. Clube de sonhadores, toda a nossa elite que sonha, devaneia e diz que “fascina pela sua disciplina” . A disciplina pode indicar uma submissão, uma ausência da necessária insurgência que torna a vida mais bela. Mas, como já foi dito, o Botafogo é o fogo. O Botafogo é a luminosidade de uma estrela, o calor necessário à vida e, sobretudo, a possibilidade de inventar a vida, de engendrar outros caminhos, o Botafogo é corpo e alma harmonizados e aptos para tornar a vida mais intensa.
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